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Metade das cidades brasileiras está em alta vulnerabilidade climática, aponta relatório

No Brasil, 2.801 dos 5.570 municípios já estão em situação de alta ou muito alta vulnerabilidade climática, segundo a plataforma Adapta Brasil. O dado integra o relatório Cidades Verdes-Azuis Resilientes, que reúne conhecimento científico e tecnológico atualizado para apoiar com informações programas e ações de governos e empresas e a própria sociedade na construção de ambientes urbanos mais preparados e sustentáveis diante da crise climática. O documento foi lançado pelo Centro de Síntese em Mudanças Ambientais e Climáticas (Simaclim). 

Os desastres que provocam cada vez maior instabilidade social não são causados pelo evento climático em si, mas pela interação desse evento com a vulnerabilidade do território, das pessoas e do ambiente construído exposto. O documento reforça que, sem enfrentar a desigualdade, a adaptação não será transformadora, consistente ou duradoura. O texto também alerta para os riscos de respostas somente reativas — como canalização de rios ou piscinões isolados —, que podem, inclusive, agravar a situação dependendo dos efeitos não planejados, principalmente sobre justiça socio-climática. 

Segundo o texto, o Brasil tem 12.348 favelas e comunidades urbanas, com 16,5 milhões de pessoas. Mais de 8,2 milhões delas vivem em áreas sujeitas a inundações, enxurradas e deslizamentos. Apesar desse cenário, metade dos municípios não tem plano diretor atualizado e, mesmo entre os que têm, há pouca integração com planos climáticos. Outro dado alarmante é que, em 2023, o País foi o que mais registrou deslocamentos internos por desastres nas Américas, com 745 mil pessoas atingidas. O número de eventos extremos relacionados à chuva também triplicou desde os anos 1990, e os prejuízos já somam R$ 132 bilhões somente nessa década. 

O trabalho apresenta diagnóstico e soluções para setores estratégicos, como uso e ocupação do solo, áreas naturais, mobilidade e transporte, saneamento e habitação social. A principal proposta é o planejamento urbano integrado, preventivo e participativo, baseado em uma “adaptação transformativa”: mudanças estruturais capazes de enfrentar a desigualdade como raiz da vulnerabilidade e promover justiça climática. 

“Temos desafios múltiplos. Isso só vai ser possível se fizermos um esforço de inclusão. Não tem como produzir cidades justas sem que as pessoas participem das decisões. Precisamos de um esforço coletivo em todas as escalas, do global ao local, e uma integração de setores da sociedade e de gestão pública. Isso é necessário para o que a gente chama de adaptação transformativa”

Maria Fernanda Lemos, professora de urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e autora-organizadora do relatório

Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

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