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Aditivos plásticos no oceano podem afetar organismos marinhos mesmo em baixas concentrações

A maioria dos aditivos comuns em plásticos de uso doméstico e industrial apresenta alta toxicidade para organismos marinhos, mostra artigo publicado na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências na sexta (7). A partir da revisão de literatura científica, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) verificaram que essas substâncias, usadas para conferir aos produtos plásticos características como flexibilidade ou resistência ao calor, apresentam um potencial tóxico mesmo em concentrações baixíssimas.

O estudo analisou 25 artigos científicos que investigaram efeitos tóxicos de substâncias como bisfenol-A (BPA), alquilfenóis e ftalatos em organismos marinhos. Para quantificar a toxicidade, os pesquisadores analisaram parâmetros como a Concentração de Efeito Mais Baixa Observada (LOEC) e a concentração que causa efeitos ou morte em 50% dos organismos testados (EC50/LC50). O estudo identificou padrões preocupantes, com limiares de efeito na ordem de microgramas por litro (µg/L).

O bisfenol-A (BPA) foi um dos compostos mais estudados. Comum desde os anos 1950 em recipientes domésticos reutilizáveis, por exemplo, seus efeitos tóxicos começam a partir de 0,1 µg/L, atingindo organismos sensíveis como o mexilhão e a bolacha-do-mar. Ele é encontrado em concentrações medianas de 0,022 µg/L em ambientes costeiros, mas algumas regiões estudadas chegam a registrar até 4,8 µg/L, valor 4700% acima do limiar tóxico.

Segundo Denis Moledo de Souza Abessa, pesquisador do Instituto de Biociências da Unesp e coautor do trabalho, a presença do BPA nos ambientes marinhos se dá principalmente pelo esgoto, pois não é removido completamente em estações de tratamento.

Outro composto, o BPAF, criado como alternativa ao BPA, mostrou toxicidade semelhante, com alterações comportamentais em peixes a partir de 0,61 µg/L. Os alquilfenóis, como o nonilfenol (NP) e o octilfenol (OP), usados na fabricação de detergentes, cosméticos e produtos agrícolas, também se destacam pela alta toxicidade e tendência a se acumular nos tecidos animais. Concentrações máximas de NP de 4,1 µg/L foram relatadas em regiões estuarinas, áreas de transição entre rios e o mar. Esse valor é mais de quatro vezes superior ao nível considerado tóxico para embriões de ouriços-do-mar, que é de 0,937 µg/L.

As substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), amplamente utilizadas em utensílios de cozinha antiaderentes, foram os únicos aditivos revisados com efeitos tóxicos em concentrações mais elevadas, na faixa de miligramas por litro. Ainda assim, são motivo de preocupação devido à sua persistência ambiental, ou seja, pela dificuldade de biodegradação.

Fonte: Agência Bori

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