Área do cabeçalho

Mosquitos geneticamente modificados bloqueiam o ciclo de transmissão da malária

A malária é transmitida por mosquitos do gênero Anopheles que picam pessoas infectadas e se alimentam de sangue que contém o parasita Plasmodium. Antes de infectar outro ser humano, o parasita precisa completar parte de seu ciclo de vida dentro do mosquito, atravessando a parede intestinal do inseto e alcançando suas glândulas salivares. É nesse ponto que a nova pesquisa, publicada na revista Nature, atua: ela impede que o parasita consiga se desenvolver no mosquito, interrompendo a transmissão antes mesmo que ela chegue aos humanos.

O trabalho foi liderado por cientistas da University of California, San Diego, e da Johns Hopkins University, com participação do professor Rodrigo Malavazi Corder do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.

O alvo da intervenção foi um gene do mosquito chamado FREP1 (Fibrinogen-Related Protein 1), responsável por codificar uma proteína necessária para o parasita atravessar a parede intestinal do inseto. Alguns mosquitos apresentam naturalmente uma variante desse gene, chamada FREP1Q, que altera levemente a proteína, dificultando a entrada do Plasmodium falciparum, espécie que causa a forma mais grave da malária.

No Brasil, o principal transmissor da malária é o Anopheles darlingi, predominante na Amazônia. Ainda não se sabe se a mesma variante do gene FREP1 teria o mesmo efeito nessa espécie. Segundo Corder, já existem conversas preliminares para montar um grupo de pesquisa e investigar o potencial dessa abordagem com mosquitos e parasitas locais.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2023 houve mais de 260 milhões de casos de malária e quase 600 mil mortes no mundo. Apesar de métodos tradicionais como uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas e diagnóstico e tratamento precoces, a incidência global da doença está estagnada há cerca de uma década.

“Por isso, novos métodos de controle são necessários. Essas estratégias genéticas são promissoras pois podem reduzir a capacidade de transmissão sem ter que eliminar a população de mosquitos – o que tende a ser ecologicamente menos agressivo”

Conclui Corder.

Fonte: Jornal da USP

Saiba mais: Mosquitos geneticamente modificados bloqueiam o ciclo de transmissão da malária