UFC e Fundação Oswaldo Cruz investigam impactos da Covid-19 na saúde mental
A Universidade Federal do Ceará e a Fundação Oswaldo Cruz estão desenvolvendo uma pesquisa sobre os impactos da pandemia Covid-19 na saúde mental dos trabalhadores de hospitais e centros de saúde da rede pública do Estado do Ceará.
A pesquisa, que tem como nome “Impacto e consequências da covid-19 em trabalhadores de saúde do Estado do Ceará: uma avaliação integrada clínico-psiquiátrica e molecular da saúde do trabalhador”, foi iniciada em setembro de 2021 com prazo de finalização em agosto de 2023. Está sendo conduzida pela Profª Danielle Macêdo Gaspar (UFC) e Fábio Miyajima (FIOCRUZ), e conta com uma grande equipe multidisciplinar.
O projeto envolve 1.476 profissionais da saúde: médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes de enfermagem, recepcionistas, equipe laboratorial, assistentes administrativos, pessoal de recursos humanos, etc. Os trabalhadores pesquisados fazem parte das equipes do Hospital Geral César Cals (HGCC), Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSMM), Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), todos na capital, e do Hemorrede do Ceará (HEMOCE), que engloba grandes municípios do Ceará.
Segundo a Profª Danielle Gaspar (UFC) o objetivo da pesquisa é compreender os impactos que a pandemia de COVID-19 gerou na saúde mental dos profissionais de hospitais do Estado, além de entender a diferença desses impactos entre os quatro centros de saúde no tocante ao serviço prestado ao Sistema Único de Saúde (SUS) em diferentes propósitos: doenças infecciosas (HSJ); doenças mentais (HSMM); hospital terciário de alta complexidade (HGCC); assistência à política do sangue (HEMOCE).
O estudo, previsto em três fases, já está concluído em suas duas etapas iniciais – a primeira realizada entre setembro e outubro de 2021 e a segunda entre março e abril de 2022. As informações de 1.476 profissionais foram coletadas por questionários e comprovam que o impacto da pandemia no aspecto mental é mais significativo do que o esperado, com consequências mais elevadas para os profissionais da linha de frente.
Dados coletados nas duas fases mostram que o maior impacto mental foi visto em profissionais do sexo feminino, das quais mais de 30% apresentaram sintomas de depressão e ansiedade na primeira fase do estudo, número elevado para 37% na fase 2. Entre os participantes do sexo masculino, 24% apresentaram algum tipo de sofrimento mental na fase 1, proporção mantida também na fase 2 (23%).
Os principais sintomas relatados durante a pesquisa foram níveis elevados de estresse ou inquietação (52% presentes no sexo feminino e 38% no masculino); tristeza (35% no sexo feminino e 20% no sexo masculino); insônia (42% no sexo feminino e 38% no sexo masculino); e cansaço excessivo (40% nas mulheres e 21% nos homens).
Veja abaixo os principais sintomas relatados durante a pesquisa. Esses sintomas são mais fortes em profissionais que não têm hábitos saudáveis e não praticam atividades de relaxamento e acompanhamento psicológico, devido até ao próprio ritmo pesado de suas profissões.
A próxima etapa do projeto, a ser realizada entre março e abril de 2023, tem como objetivo investigar a presença e a persistência de biomarcadores inflamatórios nesses profissionais, ou seja, incidência de consequências crônicas de estresse e alterações comportamentais, geradas por uma saúde mental afetada, neste caso devido à pandemia de covid.
Em termos simples, o estresse crônico ou “síndrome da covid longa” influencia o corpo a produzir mais substâncias inflamatórias que afetam a produção de hormônios benéficos (como a serotonina) e intensifica a liberação de hormônios maléficos em excesso (como o cortisol), sendo necessário o estudo para entender melhor os mecanismos e as alterações para contribuir com o desenvolvimento de tratamentos.